Nós passamos tanto tempo acreditando que o valor da vida estava no quanto conseguimos produzir, conquistar, acumular. Que era preciso fazer, entregar, mostrar. E, sem perceber, fomos nos afastando de algo essencial: o simples ato de viver com presença.
Agora, algo começou a mudar. Estamos mais dispostas, mas também mais despertas. Há um novo tipo de cansaço pairando no ar, aquele que não vem do corpo, mas da alma que se cansou de correr atrás de tudo. Depois de anos tentando dar conta de tudo (do trabalho, dos estudos, das redes, das expectativas), o corpo começou a falar mais alto.
Ele pede pausa. Pede silêncio. Pede algo que nos traga de volta pro agora. E é aí que surge o desejo de ler de novo, de cozinhar sem pressa, de bordar sem propósito, de conversar olhando nos olhos. Voltar a ler, cozinhar, bordar, pintar, cuidar das plantas ou sentar pra conversar com quem a gente ama deixou de ser “perda de tempo”. Virou resistência. Um jeito silencioso e poderoso de lembrar quem somos quando o barulho das notificações some.
Essas pequenas rotinas, que antes pareciam banais, voltaram a ser nosso antídoto. Elas devolvem sentido ao cotidiano, nos reconectam ao tempo real e curam uma parte da ansiedade que o excesso de telas provocou. Quando a gente segura um livro, mistura ingredientes ou pinta algo só por prazer, o corpo entende: estamos seguras de novo.
O consumo ainda é um campo complexo (e a gente sabe). Mas algo em nós mudou. Já não compramos para preencher o vazio, e sim para nutrir o que realmente importa. Questionamos mais: o que vale o meu tempo, a minha energia, o meu dinheiro? Voltamos o olhar pra dentro e, de repente, percebemos que o essencial nunca esteve à venda.
Talvez o novo luxo seja isso: ter tempo. Ter calma. Ter vínculos. E escolher viver de um jeito que não nos esgote, mas nos alimente. Porque o bem-estar feminino não está em fazer mais ou menos, mas em recuperar o direito de viver com presença.
A vida fora das telas não é uma fuga: é um reencontro.

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